Algumas discussões não ficam ultrapassadas tão rapidamente e, por consequência, posts na web que são feitos abordando esse tipo de assunto que não tem uma resposta definitiva, um “sim” ou “não” e que, por envolver diretamente a vida e profissão das pessoas, acabam ganhando “um quê” de atemporalidade.
É o caso do artigo “Programadores PHP e agências web: onde está o problema?“, de Davi Ferreira, que, através de indagações usando de certa estrutura lógica (porém, usando um tom não muito hospitaleiro), colocou à discussão “Qual é o problema com os programadores PHP disponíveis no mercado“?
No referido artigo, Davi Ferreira apresenta sua visão de microempreendedor em relação à classe de profissionais que são programadores PHP, deixando clara sua insatisfação com o que “o mercado” oferece e não poupando adjetivos pejorativos para a maioria dos candidatos que se apresentaram à sua empresa para ocupar a vaga de programador PHP, chegando a dizer que há anos procura um profissional que esteja à altura do padrão de qualidade de sua empresa, “que é alto demais”.
Mais uma vez, lembremos que é um post de alguns anos atrás e pode ser que muita coisa tenha mudado (por exemplo, não é do conhecimento, sequer, se Davi Ferreira ainda possui empresa), mas o foco não é esse; o foco é a discussão sobre se os profissionais de PHP estão qualificados, ou não, para assumir cargos em empresas.
Toma lá, não dá cá
Se não, vejamos: dentre as tarefas que o sonhado programador PHP da empresa de Davi Ferreira terá que desempenhar, constam “publicadores, intranets, sistemas de controle financeiro, disparo de e-mail marketing, jogos, testes online para ensino, e-commerce”; quer dizer, como o próprio autor do artigo cita, o profissional requerido precisa estar num momento mais maduro de sua carreira, sendo que o “profissional para desenvolver formulários de fale conosco” não é nem cogitado de participar da seleção. Nada mais justo para uma empresa que desenvolve os tipos de solução web apresentados.
Entretanto, como foi levantado por muitas das pessoas que comentaram no artigo à época de sua publicação (e, mesmo o artigo sendo de anos atrás, até hoje recebe comentários, tamanha sua repercussão), a remuneração/recompensa oferecida está bem aquém das exigências mínimas apresentadas: “A gente começou aqui oferendo 3.5-4k. Mas depois de tanta decepção e frustração, agora gira em torno de 2k-3k” (sic).
“Um Super-Homem pelo preço de um Chapolin Colorado”
Dentre as tantas críticas de muitas pessoas em relação a essa “troca injusta”, essa analogia hilária (e verdadeira) foi apresentada por Adler Medrado, que também foi um dos comentadores do artigo. E é nesse ponto que a maior das ressalvas deve ser feita: todo o discurso do artigo está maculado pela mentalidade empresarial.
Uma empresa é uma “entidade” cujos sócios desejam o maior retorno possível para seus empreendimentos dando em troca o mínimo que for possível. Essa é “regra 0” de qualquer empresa e, sequer, está aberta a interpretações ou discussões, pois é algo público, notório e de conhecimento (praticamente) universal. Mesmo sendo contra a Lei, muitas empresas pelo mundo mantém pessoas em regime de escravidão e semi-escravidão e isso já é mais do que o suficiente para corroborar e tornar irrefutável a “mentalidade empresarial”.
No caso das pequenas empresas, a situação é ainda mais peculiar, já que os sócios (geralmente) não possuem um valores de investimento/capital muito alto e precisam “maximizar as oportunidades” (leia-se: querer ainda mais, oferecendo ainda menos). Então, para o leitor mais desavisado ou distraído (para não usar o termo “inocente”), saiba que a figura do empregado que ganha pouco e “carrega a empresa nas costas” não é nenhuma novidade e, ainda hoje, é presente e ativa em várias empresas e escritórios apertados (e de decoração duvidosa) pelo Brasil.
Segundo o próprio Davi Ferreira comentou, não acontece bem como evidenciou Flavio, ao comentar “hahah esse filme eu já vi, pequena empresa , monte de sócios(fazem nada, ou seja sabem tudo de negócios), querem ‘um faz tudo'” e, em sua empresa, os próprios sócios também trabalham. Para alguns, pode parecer que o caso é ainda mais agravante, já que, teoricamente, os sócios – que já estiveram “do outro lado” – deveriam saber como valorizar o trabalho de um profissional da programação, em especial com todas as qualidades e requisitos mínimos exigidos.
Fica claro, portanto, que esta recompensa/remuneração está muito abaixo do que seria o justo para um profissional programador PHP do gabarito que está sendo considerado como obrigatório para uma seleção bem-sucedida, tanto pela lógica, mesma, quanto pelos comentários das dezenas de pessoas que emitiram sua opinião sobre o “desabafo empresarial”, não deixando como algo velado que o custo/benefício para o então programador-mor requerido é uma piada.
“Há controvérsias”
Mas, não surpreendentemente, outros auto proclamados empresários aparecem para comentar, citando que esta é uma situação comum “no mercado” e que o desabafo empresarial estava mais do que certo e justificadíssimo!
Pessoalmente, considero que a melhor opção é trabalhar com alguém(ns), não para alguém(ns); e, claro, gostaria de estender esta discussão, também, aos comentários aqui do desenvolvimento para web.
E você, querido leitor, o que pensa sobre tudo isso? O que se está exigindo está dentro “dos padrões do mercado” ou se trata, realmente, de querer “um Super-Homem pelo preço de um Chapolin Colorado”?
Comente!